Wingene

José Eugênio

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Reflexões

Organizar a vida

Fios entrelaçados povoam a mesa em desordem caótica. Permanecem embolados, espectadores do vazio. Sua extensã encontra uma parcela atmosférica em constante movimento. Inertes, têm a energia a fluir em suas veias. Ligam aparelhos, numa frenética troca, transportam somente, sem saber o que importa.

Pessoas são como condutores, alguns meros portadores, em seu interior só o metal, que nada retém. Jogadas nas mesas conectam, conduzem, sem julgar. Recebem, passam adiante e nada acrescentam. Nas mesas da vida jazem entrelaçadas, cada dia mais envoltas no ofício de conduzir. Não criam, não acrescentam.

Rolando as telas, ávidos em encontrar uma notícia, um meme, para enfim divulgar.

Quanto mais tempo dedicam a essa prazerosa atividade, envoltas em fios, enrolados, jogados, menos crítica vai ficando a sociedade. Emaranhadas na vida que o fútil sempre traz, agradando com o seu brilho tentador. Desprezam o saber pela pronta resposta que os elétricos podem dar. Para quê estudar? O conhecimento está nas telas, basta indagar.

Buscar soluções no órgão máximo pode parecer antiquado. Mas é nele que repousa o que somos. O que temos sem os cabos, as conexões, a energia elétrica e todos os aparelhos que a ela se conectam? Humanos, senhores das próprias criações, delas viver é somente opção. Assim, ao invés de imersos, presos. Do isolante pode-se, enfim, escapar. Extrapolar o virtual. Deixar de ser parte, para participar, mais realidade sentir. Organizar o emaranhado. Superar a teia que embola, ser maior que a tela que cola

Assim soberanos, o tempo da vida livre será.

(21/08/25)

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