Rio Japão
O pequeno Marcos e seus dois irmãos, todo ano, contavam as horas para as costumeiras viagens à terra natal dos seus pais. Lá viviam intensos momentos na companhia dos avós Aurélio e Dirce. Vovó Dirce fazia quitandas de milho e de trigo, deliciosas broas e biscoitos, assados em um grande forno ao lado do paiol. Fora os doces de leite, sempre encontrados no pote da sala de jantar, que por coincidência ficava no caminho entre a cozinha e a entrada da casa, no entanto, por mais que comessem, parecia estar sempre cheio. Do pote de doces, corriam pelo quintal em divertidas brincadeiras da vida do campo.
Os tabuleiros da vovó eram feitos na própria fazenda por vovô Aurélio, um homem muito sábio que, na simplicidade do pouco estudo, ensinava sobre as estrelas, a lua e o sol. Criava ferramentas e construía utensílios com habilidade na bigorna e no serrote. À noite reunia os netos para contar histórias do folclore popular. Branca de neve era a personagem preferida dos meninos, que apesar de saberem de cor o enredo, sempre queriam ouvir novamente.
Uma das aventuras preferidas de Marcos e seus irmãos João e Arthur era passear no rio Japão. O rio de águas cristalinas e margens de areia era palco de pescarias com peneiras. Encurralados nas margens, piabas, lambaris e cascudos saltavam na peneira, onde a água escorria entre os vãos da palha trançada, revelando seus corpos brilhantes. Eles sempre preparavam em uma das margens uma pequena represa, destino temporário dos peixinhos assustados.
As represas eram cuidadosamente construídas com pedrinhas e areia. Uma entrada de água em cascata trazia água pura e cristalina para os peixes. A saída de água era um vertedouro, que deixava o excesso de água ir embora, para a barragem não encher demais e transbordar. Os seus moradores nadavam tranquilos, alegrando a pequena construção. Que mais tarde tinha suas comportas abertas, soltando-os de volta ao lar.
Algumas vezes, vovô Aurélio acompanhava os meninos até o rio. Todos recordam do dia em que, agachado, olhando o rio, perguntou: — Já imaginaram se essa água toda fosse petróleo? Os netos ficaram pensativos por um tempo, até que Arthur disse: — Os peixes iam morrer. João concordou: — Não vai dar para fazer represas. Enfim, Marcos afirmou: — Prefiro essa água aqui do que o petróleo. O avô sorriu satisfeito.
À noite, após o jantar, vovô Aurélio foi até sua estante e pegou um grosso livro, as mil e uma noites. Folheou calmamente e disse: — Hoje vou ler a história do homem que sabia a língua dos pássaros. A fábula contava sobre um homem que recebe a dádiva de entender a linguagem dos animais. Com o seu dom, o homem aprendia com os pássaros e outras criaturas, percebendo a interdependência entre os seres vivos e a natureza. Certo dia, ele ouve os pássaros discutindo a chegada de uma seca e a necessidade de proteger as fontes de água da região. O homem, então, com a ajuda de amigos, consegue preservar um oásis importante que sustentou toda a vida na região.
Após a leitura, o sábio avô complementa dizendo: — A natureza fala conosco, se soubermos ouvir, devemos aprender a preservá-la. Hoje vimos como a água é mais valiosa que o petróleo.