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José Eugênio

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Consciência

Mente e corpo

“É este o erro de Descartes: a separação abissal entre o corpo e a mente, entre a substância corporal, infinitamente divisível, com volume, com dimensões e com um funcionamento mecânico, por um lado, e a substância mental, indivisível, sem volume, sem dimensões e intangível; a sugestão de que o raciocínio, o juízo moral e o sofrimento adveniente da dor física ou agitação emocional poderiam existir independentemente do corpo.” (Antônio Damásio)

A mente faz parte do corpo, cria-se no espaço físico, povoado por seus órgãos sensoriais e governado pela máquina cerebral, centro de todas as sensações, emoções e pensamentos. Essa poderosa máquina pode parecer, em alguns casos, extrapolar o limite corporal, viajando nas ondas extasiadas das inúmeras conexões neuronais. Mas sua substância é material, não metafísica. Endosso o parágrafo de Damásio que abre esse texto: a mente não existe sem matéria. No entanto, o mundo que vive em cada mente é repleto de árvores viçosas que pulsam em harmonia. Das raízes às folhas, a floresta é um todo, criando o complexo sistema consciente, regido por leis próprias. Dançando incessantemente, sentindo e pensando, parecendo realmente ter vida extracorpórea.

Nesse baile, as sinapses se fortalecem, se conectam e se podam, uma atividade frenética que responde aos estímulos externos, guiando a tomada de decisões, carregando a elétrica seiva do compasso primordial, a expansão do saber, o movimento vital. Nesse processo, a valsa pode desandar. A busca por explicações pode levar ao acúmulo de concepções fantasiosas, pois é cômodo adubar árvores de crescimento fácil, semeadas por ofuscantes enganos. Evitando o florescimento de conhecimentos que, para brotar, precisam do cuidado na seleção da verdadeira cultura, que requer esforço e paciência para compreender a verdade que encerra.

As ervas daninhas que surgem do apelo preguiçoso de aceitar narrativas infundadas cativam a mente com informações falsas. Crescem e se alastram, apelando para a tendência em acreditar em falsas notícias, placebos milagrosos e toda sorte de absurdos. É preciso expurgar essas ervas que cegam a mente. Cultivando no solo do método científico uma esplêndida floresta, cria-se uma mente devidamente sã, onde a experimentação e a consciência crítica impeçam que o engano se alastre.

A floresta mental não se dissocia do corpo, enraizada em cada órgão, comanda o movimento e o descanso, sente o prazer e a dor. Neurônios corporais sentem a dor do músculo fatigado, clamando o repouso que a mente decide. As copas reluzentes, viçosas e frenéticas, governam o ser, mas o corpo é presente em cada pelo do viver. Que adoece, resente, falha e envelhece. Não basta o gerente desejar a saúde, isso ele não pode controlar, mas pode decidir manter o vigor. Buscando bons hábitos, exercitando e nutrindo o físico com ciência.

Enquanto alimenta e condiciona as células físicas, a mente, como uma parte preciosa da máquina vivente, precisa de cuidador. Para isso, o bosque supremo não precisa apenas de nutrientes, mas também da doce energia da cultura humana. Pois a mente, sendo parte do corpo, somente será plena se abrigar as sólidas árvores do conhecimento. Onde cada planta dará acolhida a novas sementes que ressoem semelhantes ao bosque da plena e corpórea mente. Plasmada a imagem da mente em incontáveis raízes e folhas verdejantes, sua complexidade está posta. Assim, ao desfazer o abismo entre mente e corpo, reencontramos a unidade perdida por Descartes. Corrigindo-o, pois a mente é física, mas cientes de que esta abriga em seu íntimo uma vasta floresta.

13/09/2025.

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