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José Eugênio

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Natureza

Infinitas Cosmogonias

Meu olhar para a possível gênese do Cosmos sempre se apoiou na ciência. Parecia carecer de aprofundamento, no entanto, o futuro ocaso da vida terrestre e a possibilidade do fim do universo conhecido mudaram meu foco. Minha visão do eterno e do efêmero ganhou, então, novos significados. Primeiro, o efêmero se suavizou no horizonte temporal. Posteriormente, o eterno se cristalizou em infinitas cosmogonias.

O eterno

A minha cosmogonia reflete uma das postulações científicas mais profundas e radicais, onde um buraco negro pode ter na outra ponta um buraco branco. Nosso universo seria então um buraco branco. Imagino a existência de uma sequência infinita de pares de buracos brancos e negros. A vida pode existir em cada um desses buracos brancos. A dor da perda é mitigada pelo entendimento da eternidade desse ciclo. O possível renascimento de outros universos me leva a crer que o conhecimento é infinito e que, em cada novo ciclo, ele avança ainda mais.

O efêmero

A humanidade não é nada mais que duas centenas de milhares de anos dentro desses bilhões de anos do que se sabe da existência do Universo. Vamos perecer nos próximos mil anos se não fizermos nada a respeito do ecossistema terrestre. A busca por um novo planeta aventada por alguns é utópica e paradoxalmente distópica. Essa imagem parece desesperadora para alguns, o fim da raça humana, mas a vida estará sempre ressurgindo, permanecendo por um tempo aqui mesmo na Terra ou em outras regiões do Cosmos.

Não devemos nos incomodar com isso. A nossa vida deve ser repleta de momentos alegres e de muita luta. Saber que haverá o fim da humanidade na Terra não nos impede de vislumbrar o que pode acontecer nos próximos bilhões de anos. Sentiremos então a felicidade de saber que a harmonia do universo é infinita e representa a música que embala a dança universal. Essa felicidade precisa de um apoio, a certeza da sobrevivência da vida natural. A beleza singela da vida sem fim.

Vida sem fim

Nossa nave azul surgiu há bilhões de anos, levou outro bilhão de anos para o surgimento dos primeiros microrganismos. A vida floresceu lentamente e deve deixar de existir em um ou dois bilhões de anos. A morada da Terra, de infinitos planetas, estrelas e tudo mais, também terá seu fim. Nessas escalas de tempo enormes, dezenas de anos são o que temos para existir. Não viveremos de novo, tampouco voltaremos em outra oportunidade do individual existir. Nosso prazo é o que temos, contado em respirações, no ritmo do coração. Alimentando a mente criativa a descobrir os mistérios, inventando a melodia que já ressoa no tempo e no espaço. Sinfonia da matéria e energia que se espalha e esfria, rumo à máxima entropia, destino do cosmos. Frio e vazio. Para onde irá toda a beleza — os quadros brilhantes da colorida natureza? Esse inevitável futuro não me causa sofrimento, pois enxergo no escuro de buracos massivos. Avistando neles, negros portais para invisíveis universos. Novas cores, outras vidas.

Essa é a otimista esperança: o surgimento de novos inventores que descubram novas sinfonias. Desbravadores em novos mundos, arautos da busca que nunca termina. A mesma que move a nossa existência, movimentos da música que ressoa no eterno. Uma sinfonia da finita existência que seguirá vibrando na vida sem fim.

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