Amor consciente
Amor, tesouro preciso; zelo, sempre preciso.
Acordo ao seu lado, refletindo sobre a beleza de nossa união, que se renova a cada manhã. Na cozinha, a água esquenta o pó, aconchegante café escoa nas xícaras, um prazer compartilhado, o divertido intercâmbio. O casal se separa, cada um com sua missão diária. Trabalho que se desenrola. Vez ou outra, um telefone: — Amor, podia comprar uns pães. No fim do expediente, distraído, esqueço os pães. Em casa, te encontro. — Não passou na padaria? Esqueceu de novo? — Vou rapidinho buscar, me desculpe. Detalhes assim podem te irritar, mas no fundo você sabe do afeto que nos une.
Nossa vida corre assim, com altos e baixos. Nem sempre o amor é alma divina, há momentos de pequenos atritos. Eu tenho ciência das minhas limitações, você procura melhorar, mas o fato é que, por vezes, erramos. Como naquele dia em que esqueci de ligar o carro após uma longa viagem: — Amor, conferiu o carro? — Ainda não. A bateria estava descarregada. No carro, antes de sair: — Parece que a bateria está descarregada. — Eu avisei, precisava checar. Você disse aborrecida e eu me entristeci. Muitas vezes eu estou concentrado trabalhando e não te escuto. Outras vezes, nos desligamos rolando telas no celular. Deslizes da rotina, que poderiam ser trocados pela alegria da convivência mútua.
Mas essa sonora cor que ressoa nos sentidos provoca sensações sem igual. Na tentativa de descrevê-las, faltando poucos dias para as nossas bodas, elaborava uma poesia: Aquarela de uma valsa. Nela, exaltava o sentimento como música e cores. Enquanto escrevia, você chegou da ginástica. — Vamos lanchar? — Vamos sim. Respondi, trancando o computador. Foi uma boa oportunidade para mais um agradável encontro. Passei o café meticulosamente, com meu ritual habitual, enquanto você preparava uns ovos mexidos. — Pensei que não estaria em casa. Você disse. — Meu compromisso foi cancelado, ficou para amanhã. — Podíamos levar uns biscoitos para a sua mãe. Eu concordo, já pensando na sua atenção com meus familiares. Pequenos gestos de carinho que cativam e ampliam o sentimento.
Após esse intervalo contigo, voltei a escrever. Relembrando os momentos difíceis que superamos juntos. Minha doença crônica, motivo de várias internações. Episódios que marcaram, desafios vencidos com muita luta. Minha como doente e sua com o cuidado e dedicação. A confiança nos laços que nos unem permitiu a perseverança e a superação.
Esses laços se fortaleceram com o nascimento de nossas filhas, que se beneficiaram da preocupação compartilhada de como educá-las. Uma busca constante que precedeu a primeira gravidez. — Será que seremos capazes de criar e educar nossos filhos? — Precisamos nos capacitar. Estudando e conversando, sempre pensando no esforço de melhorar como pais. A realização de ver o resultado alimenta ainda mais o compromisso e a felicidade.
Assim, no meio de tantas alegrias, as cores do amor nem sempre são vibrantes e quentes. Ruídos que interrompem a música da união, no entanto, não tornam os elos mais fracos, servem para dar contraste, acentuar a beleza da vida. Uma beleza que reflete no ritmo do coração e no pulsar da mente. Um amor que, antes de ser divino, é consciente — como uma valsa com pausas e harmonias pintada em cores de uma aquarela.