Wingene

José Eugênio

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Consciência

Quarta dimensão

O som agradável da música vem do banheiro, misturando-se ao barulho da água que cai do chuveiro. Ela canta junto. Na boca repousa o gosto da bebida, marcante e saboroso. A tela exibe as palavras que surgem em fluxo. Sentindo as teclas suaves, os dedos habilmente percorrem cada letra, símbolo e acento. A escrita já foi com canetas e cadernos, hoje ele não tem tanta destreza. Sua letra no papel chega a ser ilegível. Folheando o passado, a caligrafia se dissolve em garranchos sem sentido.

Um relógio analógico no pulso esquerdo marca meio-dia e dois, mas acima das palavras brilha 23 de agosto, 12:05. O digital é certo, assim também é o texto, corrigido enquanto se cria. A precisão dos eletrônicos é boa, mas convida a uma vida contada em segundos, quando se quer viver sem hora. Apreciar bons momentos requer um tempo que, no século XXI, parece ser escasso.

O som que vinha da Internet, repentinamente, dá lugar à música de um rádio em outro cômodo. Andorinhas bailam voando, buscando presas que capturam no ar. Crianças gritavam alegremente, correndo no pátio do colégio. Ele lembra dos tempos de criança, quando a mãe ainda não tinha a tela mágica, mas ouvia no aparelho a pilha aquelas músicas que traziam alegria.

Da cozinha vem o cheiro do almoço, a tela será desligada. A iminência do sagrado momento, da comunhão familiar, traz alegria. Passou-se um quarto de hora. A quarta dimensão, diferente das que pintam o espaço, passa sem que se sinta. Na rápida frequência do cristal.

Para, respira, pensa: o tempo passou como um facho. Que bom seria se caminhasse no ritmo do coração!

23/08/25 - 14:00

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