Wingene

José Eugênio

🔍 Pesquisa

Crônicas

Pintura modesta

Buscando manter o estado de serena euforia mesmo quando os sentidos tamborilham minha mente. O barulho da TV alta que o idoso escuta. A tendinite teimosa que dói em meu braço. Mas o céu está vistoso, um convite ao aconchego desta mente que vibra, se sacia de vida, acima dos ouvidos, da dor aguda que permanece.

Satisfeito de ver o logro da alegria pura, da mente que voa, pensar brotando nas letras que escolhe. O arrepio dos neurônios não cessa. Não importa o ruído, a cabeça o sente, mas a mente é mais forte. Assim ela cresce, acima dos sentidos e dos simples pensamentos. Esses últimos me fazem criar esse texto, singelo e tranquilo, retrato do estado. A serena euforia reina sublime, feliz e longa. Linda e perene, não importa as cinzas nuvens, o sol que se esconde. O brilho ultrapassa o ser. Sentido no corpo, irradiando o viver.

Reviso, releio esse texto. Para certificar que o que vivo é o que transcrevo. Em letras negras saltando no branco. A sensação escrita, um retrato que tenta, em poucas palavras, explicar o incrível. Pintura modesta da mente consciente.


O olhar atento observava. O mar das asas derramava o azul sobre as telhas inertes. Tingido pela força do astro da vida. Espelhava a cor radiante que no espaço explodia.

Aquela doce sensação, a serena euforia, sumira do ser. Os sons eram calmos, pardais em cantoria. Garotos brincando, vozes macias, bola quicando. Uma máquina voa cortando o celeste, num rastro molhado. Sinalizando a passagem em efêmero traço.

Um bando de asas negras paira distante. Sem predadores que ameacem seu dia. O caloroso ambiente envolve o humano, a plácida euforia está na lembrança. Ele sabe que pode vivê-la novamente. Feliz sente o dia, descansa o pensar. O traço do voo permanece no ar. A qualidade e a força vívida e recente, assim como as brancas marcas, surgirão novamente em auroras recorrentes. Inspirações metafísicas da mente consciente.

<–