Futuro ancestral
Um frio artificial penetrava meus braços. Os olhos cansados doíam. Uma dezena de cadeiras laranjas. Eu, uma mãe e sua filha, que zanzava entre brinquedos e assentos vazios. Apressada, a médica chega, desculpando-se. Um desenho infantil brilha cores na tela. Ninguém liga, nem a menina. Quer brincar em seu mundo de descobertas. A pequena ensaia um choro de reclamação. Sua alma protesta contra a monotonia, que não condiz com a urgência infantil pelo novo. Jovens gerações são o futuro ancestral, tecendo invenções criativas que mudam o mundo, adiando o ocaso humano.
Não importa o epílogo da vida terrestre, muito menos o cosmos dissolver-se em desordem vazia. O florescer da vida enche os espaços. Assim como a menina ocupa várias cadeiras, as trilhas da mente podem expandir-se, vibrando em constante alegria. Agora mesmo, nesta sala que espera, meus neurônios pulsam nesta narrativa. Pensamentos que alimentam a alma, saciando o ser.
Enquanto a pequena brinca, recordo como a iminência da morte não me preocupa. Não preciso buscar as vazias promessas de eterno viver. Vida é coisa boa, também por ter um fim. O tempo contado clama o saber: aprender para evoluir e ensinar. Crianças querem novidade — inata vontade. Assim demonstra a infante que prende meus olhos com seu vestido azul. A mente não nasce vazia. A sombra genética cumpre seu papel, mas o homem se forma ampliando a cultura, aprimorando a moral.