Wingene

José Eugênio

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Crônicas 1

Atento descanso

Na tela, insistente, o aviso do descanso, indicador verdejante. Partindo de 10 minutos, regredindo, esvanece. Uma necessária pausa clama. As cores no grande retângulo tingem a retina. Vou até a copa, sorvendo o líquido gelado sem sabor, refresco da alma. A mente presente observa. Mantendo o êxtase dos miolos que vibram os sentidos.

Na janela, o olhar se perde na imensidão celeste. Cinzas nuvens cobrem o firmamento, mas uma nesga permite o azul. Uma maritaca voa gritando. No pátio do colégio, a algazarra dos meninos, bolas quicando. Sons que não distraem, somente compõem a música que ouço. Uma criança gargalha contente. Uma alegria infantil ecoa no tímpano. Um pássaro pequeno corta o horizonte nublado.

Retornando ao escritório, seis minutos luzem no equipamento. Ansiedade contida — espera. Quatro minutos e quatro segundos. O descanso é saudável, diz a dor que grita nos braços. Obedecer ao alarme não é rotina. Muitas vezes ele surge. Nem sempre é atendido. À esquerda, o horizonte se descortina. Rápido, um jato corta o céu, derramado na serra do Curral, soberba sobre os prédios. Uma paisagem castigada e seca. Nuvens estáticas, quietas, sem movimento.

O verde na tela desaparece. O artista ao teclado retoma, corpo agradecido. Novas criações lhe trarão alegria. Não basta criar, é preciso amar o físico. Recordar que não é máquina. Evoluir na disciplina, saber repousar, para que, agradecido, respire.

Transcrevo o instante. Pescando palavras, inventando o sentimento. Traduzindo o breve momento. O som de sabiás e bem-te-vis, a monotonia dos latidos. Sereno e tranquilo, desliza o pensar. Preenchendo o vazio com teclas vibrantes. Pulsação real da mente atenta. Dez minutos de paz em um minuto escrito. Voador solitário, o invertebrado passa, sem dores nem tensões — breve pensamento no horizonte infinito.


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