Wingene

José Eugênio

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Crônicas 1

Pintura modesta

Mantenho a serena euforia enquanto os sentidos tamborilham a mente. O barulho da TV alta que o idoso escuta. A tendinite teimosa que dói em meu braço. O céu vistoso convida ao aconchego da mente que vibra, se sacia de vida, acima dos ouvidos e da dor aguda.

Satisfeito de viver a graça da alegria pura, da mente que voa, brotando nas letras que escolhe. O arrepio da consciência não cessa. Não importa o ruído, a cabeça o sente, mas a mente é mais forte. Assim, ela cresce, acima dos sentidos e dos pensamentos. Esses últimos criam esse texto, singelo e tranquilo, retrato do estado. O brilho da mente é sublime, feliz e longo. Lindo e perene, não importa as cinzas nuvens, o sol que se esconde. Esse brilho ultrapassa o ser, sentido no corpo, irradiando o prazer.

Reviso, releio, buscando encontrar ecos da mente, em letras que saltam no branco. Insatisfeito, concluo ser somente um esboço, um válido esforço de explicar o indescritível — Pintura modesta da mente consciente.


O olhar atento tece cores na retina mental. O mar das asas derrama o azul sobre as telhas inertes. Tingido pela força do astro da vida. Espelhando a cor radiante que no espaço explodia.

Aquela doce sensação, a serena euforia, não está mais presente, permanecendo indescritível. Os sons são calmos, pardais em cantoria. Garotos brincando, vozes macias, bola quicando. Uma máquina voa cortando o celeste, num rastro molhado. Sinalizando sua passagem em efêmero traço. Um bando de asas negras paira distante. Sem predadores que ameacem seu dia.

O caloroso ambiente envolve o humano, a plácida euforia está na lembrança. Sei que posso vivê-la novamente. Feliz sinto o dia, descanso o pensar. O rastro efêmero permanece no ar. Novos momentos na tela modesta que espelha o futuro, onde a força vívida e recente, como as brancas marcas, surgirá novamente em auroras recorrentes — inspirações metafísicas da mente consciente.


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