Wingene

José Eugênio

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Crônicas 2

Tapete de algodão

Marcos sempre caminhava até a escola. No trajeto, passava pelo prédio de Ricardo, de onde seguiam juntos. Era um momento de alegria, de celebrar a força da amizade. Desconhecidos no primeiro verão, em pleno outono, nutriam a simplicidade do encontro fraternal. Paineiras enormes rompiam o céu azulado. As róseas flores frutificaram em paina, marcando o passo das felizes conversas. Histórias das proezas das atletas de seu esporte favorito eram pontuadas com observações apaixonadas sobre as garotas, belas jovens do colégio. Tímidos, paqueravam, sem coragem de declarar o sentimento puro que nutriam.

As painas caídas formavam um delicado tapete, tufos de algodão escondendo o verde da grama onde deitavam. As árvores, despidas de folhas, geravam a seiva do seu tronco nu, permanecendo saudáveis. Chovendo o branco incessantemente. Os amigos observavam essa cena com a felicidade típica das jovens e despreocupadas almas. O esplêndido espetáculo da natureza era um reflexo do coração dos estudantes. Sereno como os alvos frutos, e forte como a madeira que respirava.

Durante os quinze minutos de conversa, no passo firme da mocidade, uma pausa na padaria para um gole de refresco e mais motivo para se entrosar. Já viviam meses do novo colégio, mas o assunto sempre rendia. Combinavam fins de semana de peteca, Ricardo, o mais alto, sempre vencia, mas o importante era a companhia. Naquela época, quase não existia videogame, e a conexão era o telefone. Único meio virtual e que somente a conversa transmitia.

Os anos passavam, o branco das árvores pintava tapetes nos passeios. Os velhos amigos levam os filhos em veículos modernos — novos estudantes que já não notavam a beleza natural, sentados e vidrados nas telas que empunhavam. Não havia caminhadas, nem o saudável calor das petecas. Bailando ao vento, as painas clamavam olhares.

Um sábado letivo uniu os velhos amigos, conversa animada, o convite para o jogo. No dia seguinte, Marcos e seu filho Pedro encontraram Ricardo e Alex na velha quadra. Um jogo de duplas longe das telas. Alegria no esporte, esperança de nova vida, que repousa silenciosa nos serenos tapetes. Pintando o futuro nas cores do branco — a textura doce do algodão desligando as frias telas.


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