A aurora da mente
O azul se espalha pelas moradas de concreto, plantadas, imóveis, diversas na altura e arquitetura. Sob elas, tímidas copas de tom verde respiram e tecem a doce seiva da luz que me aquece. Minha mente tranquila observa; o pulsar sanguíneo é intenso, e os neurônios eriçados trazem a alegria: uma serena euforia. A cor do momento é fugaz, mas permanece viva. Não é preciso o calmo azul, mas apenas a mente atenta — força interna que colore o cinza.
A mente se amplia em instantes de intensa alegria — em experiências radiantes da mente sem pressa, que vive momentos além do comum. Uma grande euforia, contida e serena; um caloroso aconchego como fogo que não queima, persistindo no cinza urbano ou na tranquila pintura, que da seiva emana — os sentidos e os pensamentos não perturbam, a consciência flutua. Nesses momentos, surge um estado de graça — quando sinapses se elevam, pulsando energia.
Sentir essa dádiva é próprio do humano — mas poucos a buscam, presos nas nuvens das obrigações mundanas, o eterno castigo de Sísifo: rolando a mesma pedra todos os dias. Muitas vezes, o peso da rocha cresce com a injustiça social moderna. Isso supera a simples monotonia, tornando-se o cinzento flagelo da maioria. Apesar disso, o brilho da vida pode favorecer a todos, permitindo o despertar da eudaimonia, meta dos filósofos do mundo arcaico — que proclamavam a arte de agradar ao espírito. Hoje o progresso é visível, mas prioriza-se o fútil. Isso encobre uma aspiração universal: florescer a felicidade.
A floresta mental pode bailar nas copas mais altas, favorecendo a serena euforia, onde o corpo é somente o palco dos passos da mente. Basta que estes flutuem no tablado, sem notar a plateia. No conforto do lar, no movimento do trabalho, até em tediosas rotinas, a peça pode seguir. Pois a mente está à espera da deixa da delicada dança — valsa de neurônios em sintonia.
A aurora da mente pode acontecer todo dia, em interlúdios de paz e intensa alegria. São ocasiões memoráveis, de sentimentos pacíficos e pensamentos harmônicos. Não é o vazio de respirações marcadas, mas a dança suave acima do pensar e sentir. Quando a plateia e o palco não perturbam a mente — que se expande, numa grata sensação de ser por si só. Sem o clamor das sensações: somente o baile de um ser consciente.