Wingene

José Eugênio

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Ipês e Tijolos

Espírito consciente

Meu conceito de espírito não é metafísico: ele habita o corpo vivente, manifesta-se nos processos biológicos e guarda valores e emoções puras no sítio da mente. A poderosa máquina mental pode parecer, em alguns casos, extrapolar o limite corporal, viajando nas ondas extasiadas das inúmeras conexões neuronais. Mas sua substância é material. Mesmo assim, o mundo que habita em cada mente é uma densa floresta — árvores enraizadas no corpo inteiro que sentem, comandam e pensam. Das raízes às folhas, a floresta é o lar de incontáveis espécies — complexo sistema que dança incessantemente, parecendo por isso ter presença etérea. A mente pode transcender em experiência espiritual sem deixar de ser floresta real.

Como surge a espiritualidade se a mesma está presa à biologia? Ela é inerente ao ser. A floresta que sente a si mesma, sente também as maravilhas que a rodeiam. O espírito é a fauna que habita o bosque mental. Assim, as copas mais altas podem sentir essa fauna e se extasiar. Um êxtase que permite a presença do espírito. Uma presença marcada por uma alegria intensa — a consciência de pertencer ao universo. No entanto, não é apenas nesses instantes que o espírito atua. Ele age a cada instante, mesmo quando a sua felicidade não é sentida.

O espírito presente e material permite enfrentar desafios. Ele nos ilumina não somente na alegria, mas também em momentos difíceis. Como uma força consciente, o espírito acalma e consola. Nesses instantes não existe alegria, não se extasia, mas a floresta permanece viçosa. A fauna vibrante completa o ecossistema mental, garantindo o crescimento de novos brotos. Os processos mentais inundados pela tristeza encontram abrigo no espírito. Ele ampara o sofrimento e semeia a seara onde crescem as flores da alegria.

A felicidade é um estado espiritual. Mas o bosque não cresce sozinho. As flores da alegria são individuais, no entanto, podem ser compartilhadas em interações pessoais que afetam outras florestas. Ações que cativam outros bosques ressoam internamente. Elas realimentam o florescimento de novos brotos. Mesmo que os contatos tenham posições variadas, pode-se compartilhar vivências — vínculos positivos para o crescimento pessoal. Assim, o espírito materializado no ecossistema mental pode se expandir em eudaimonia.


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